segunda-feira, 30 de abril de 2012

SOLIDÂO...

Minha fotografia



Solidão

Ó solidão! À noite, quando, estranho,
Vagueio sem destino, pelas ruas,
O mar todo é de pedra... E continuas.
Todo o vento é poeira... E continuas.
A Lua, fria, pesa... E continuas.
Uma hora passa e outra... E continuas.
Nas minhas mãos vazias continuas,
No meu sexo indomável continuas,
Na minha branca insónia continuas,
Paro como quem foge. E continuas.
Chamo por toda a gente. E continuas.
Ninguém me ouve. Ninguém! E continuas.
Invento um verso... E rasgo-o. E continuas.
Eterna, continuas... Mas sei por fim que sou do teu tamanho!

Pedro Homem de Mello, 

quinta-feira, 26 de abril de 2012

O CAVALO! (LINDO!)





                                                                         
O CAVALO!
                




Teus poros exalam o fumo
Do lar dos deuses de onde vieste.
Rompante de espuma e de lume
És sol quadrúpede ou mar equestre?

Desfilando derramas o ouro
Do teu rio inacabável,
Desmedido relâmpago louro
De um deus equídeo possante e frágil.

Tudo existiu para que fosses
No contraluz desta madrugada
Mitológica proporção perfeita
Em purpúrea bruma recortada.

Pois que te é divino mister
Humanos olhos extasiar
A dúvida é só perceber
Se vieste do sol ou do mar.



Natália Correia
Poesia Completa
Inéditos 1985/90
Publicações Dom Quixote
1999

terça-feira, 24 de abril de 2012

NOTA:CONTINUO A COMEMORAR A REVOLUÇÃO DO "25 DE ABRIL" E O FIM PARA A QUAL FOI FEITA!(Vivo na esperança de...)


POEMA DE ABRIL

por Manuel Branco a Sexta-feira, 22 de Abril de 2011 às 15:07 ·
POEMA DE ABRIL



Trouxemos de noite a chama
guardada numa algibeira
e com a força de quem ama
mas amor p´rá vida inteira
ficámos,ciosos dela
resguardando-a da poeira
e fechámos a janela
calafetámos paredes
ficámos de sentinela
e quando estenderam as redes
e levantaram o muro
fizemos um barco à vela
rumo directo ao futuro


mas porque havia a certeza
dum amanhecer tão certo
nós pensámos na floresta
e não nas árvores mais perto
lutámos contra a funesta
ideia de partir tudo
revolução será festa
não é um golpe de judo
é antes um combinar
a força transformadora
dum motor a trabalhar
com a energia motora
do vento da nossa idade
que vem do fundo de nós
e sempre foi a verdade
dos homens que não estão sós


e quando o dia afinal
amanheceu tão clarinho
que as ruas de Portugal
cheiravam a novo vinho
saímos à praça e fomos
vestidos de força e linho
festejar povo que somos
tirar da garganta o espinho
Portugal não quis ter amos
quer escolher o seu caminho


e sabendo que este amor
ainda havia de dar fruto
nós escolhemos a cor
e retirámos o luto
e sabendo que esta flor
não ficava no canteiro
fomos o cravo maior
e avançámos primeiro



e rebuscámos no vento
aquilo que se não diz
sobre o destino cinzento
que descolorava a matriz
desta árvore de fermento
da copa alta à raiz
mais que alimento cimento
da vida do meu país


e com as mangas arregaçadas
na aldeia e nesta cidade
com as gentes empenhadas
por dentro da liberdade
e com as velas desfraldadas
dum destino a todo o pano
ficou para trás ,é verdade
o velho caminho hostil :
todos os dias do ano
continuaremos ABRIL .

ABRIL...SEMPRE!

domingo, 22 de abril de 2012

ERA A TARDE MAIS LONGA DE...



Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia
Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza

Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram

Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto

Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!

José Carlos Ary dos Santos

sexta-feira, 20 de abril de 2012

UM BOM FIM DE SEMANA.

HOJE É UM POEMA DIFERENTE,PRIMEIRO PORQUE FOI ESCRITO  A  UMA AMIGA DE QUEM SOU UMA FÃ INCONDICIONAL,PRINCIPALMENTE ,NA PINTURA.
O poema transcrito, foi-lhe oferecido em titulo de homenagem,e assim o sublinho...
Pinura de:Luisa Caetano


Fiz para uma amiga d'além mar:

"A artista de Carcavelos"

Na parede da minha sala
tem um espaço vazio, branco.
No espaço vazio e branco
da parede de minha sala
vejo um quadro lindo, colorido.

No criado-mudo de minha cama
tem poesia farta, linda.
Na poesia farta e linda,
repousada no criado-mudo
leio um amor imenso, lírico.

O quadro inexistente,
a poesia concreta,
são artes de minha amiga distante.

Distante de lonjura,
distante de intimidade.
Próxima de alma.
 
 

 .

terça-feira, 17 de abril de 2012

Há Palavras que Nos Beijam !

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

Alexandre O'Neill, in 'No Reino da Dinamarca'

domingo, 15 de abril de 2012

O AMIGO!!!

Montagem e imagem minha.

Alexandre O'Neill Amigo


Mal nos conhecemos
Inauguramos a palavra amigo!
Amigo é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece.
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
Amigo (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
Amigo é o contrário de inimigo!
Amigo é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado.
É a verdade partilhada, praticada.
Amigo é a solidão derrotada!
Amigo é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
Amigo vai ser, é já uma grande festa!

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Time to say goodbye...UM BOM DOMINGO



Da verdade do amor !


 Da verdade do amor se meditam
relatos de viagens confissões
e sempre excede a vida
esse segredo que tanto desdém
guarda de ser dito

pouco importa em quantas derrotas
te lançou
as dores os naufrágios escondidos
com eles aprendeste a navegação
dos oceanos gelados

não se deve explicar demasiado cedo
atrás das coisas
o seu brilho cresce
sem rumor

José Tolentino Mendonça, in "Baldios"

terça-feira, 10 de abril de 2012


'Bárbara, Bonita Scrába' - Traduzido do Poema Original de CAMOES.


(Traduzido pelo poeta Eugénio Tavares – 'Poesia na Língua d' Terra' - para Lingua Creoula.

Comprova-se, mais uma vez, a plasticidade da língua caboverdiana ao se traduzir um Camões lírico e só Eugénio Tavares e a sua variante doce da Brava se prestariam a isso.)



Quêl bonita scrába,

Qui teném câtibo,

Pamô n’ dál nha bida,

Cá crê pan stâ bibo.

Tê hoje n' c ôlhâ rósa

Num môta berdinho,

Qui mé na nhá olho

Parcém más sabinho.


Nim ramo na campo,

Nim strella na ceu,

N' ta áchâ tam frumóz'

Cumâ nha crê cheu.

Rôsto só di sel;

Olho madornádo,

Preto, stancadinho,

Má sem ser misiádo!


Um dónar cu bida

Stá nel ê mórádo`

Pâ ser sinharinha

Di quem qu' é marrádo.

Cabillinho preto,

N' dé gente bóz'

Ta perdê entender

Mâ lôro é frumóz'.



Arinho tam sábe…

Pritura de amôr,

Qui nebe jurál

Que a neve lhe jura

M’ el ta trocá côr.

Mansura contente,

Má séria lá mé...

Ta parcê bem stranho,

Má brabo el cá é!


Arinho dómádo

Qui ta mansâ mar:

Imfim n' el scançâ

Tudo nha pêzar.

Es ê quel câtiba

Qui teném câtibo;

N' pô n' sta bébé n' el

N' al lidâ n' stá bibo.

.............................

> Eugénio de Paula Tavares, (Brava, 18 de Outubro de 1867 – 01 de Junho de 1930), in Xavier da Cunha, Pretidão de amor. Endechas de Camões a Barbara Escrava, Seguidas da Respectiva Tradução em Varias Linguas e Antecedidas de um Preambulo, Lisboa 1893

domingo, 8 de abril de 2012

"A SAUDADE"


 ...È Domingo de Páscoa,sinto uma  "SAUDADE"..!

SAUDADE ,muita mesmo, da familia que partiu e dos amigos que já não vou voltar a ver.


Sinto...SAUDADE...dos Domingos de Páscoa lá,na minha terrinha,dos bolos de azeite que a minha mãe fazia


para dar as boas-vindas á entrada da Cruz a beijar,e do barulho da pequenada,incluindo-me,para comer os chocolates e os bolos.


O que eu n
ão sinto de SAUDADE...ao recordar a minha vida, vivida alegremente e que para trás ficou?

Hoje,"já mais para lá do que para cá"...assim diziam na terra,restou-me a companhia do "meu mar."

Deixei-me levar pelo murmúrio das suas ondas...tentei atordoar-me com aquele som,enquanto as lágrimas se misturavam com os seus salpicos que ME vinham  suavemente acarinhar!
Em miuda,escrevia os meus DESABAFOS no meu diário,hoje,nesta altura da vida,escrevo Num  BLOGUE...e a SAUDADE...em tempos e por motivos diferentes...continua!!!

A todos uma boa semana 

Betinha Correia

UMA BOA TARDE DE DOMINGO DE PÁSCOA!

terça-feira, 3 de abril de 2012

Continuação de uma boa semana!





                                           VOTOS DE UMA BOA PÁSCOA.
                                           COM UMA SAUDAÇÃO  AMIGA!