sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Rodrigo Leão | Vida Tão Estranha

Da verdade do amorDa verdade do amor se meditam 
relatos de viagens confissões 
e sempre excede a vida 
esse segredo que tanto desdém 
guarda de ser dito 

pouco importa em quantas derrotas 
te lançou 
as dores os naufrágios escondidos 
com eles aprendeste a navegação 
dos oceanos gelados 

não se deve explicar demasiado cedo 
atrás das coisas 
o seu brilho cresce 
sem rumor 
José Tolentino Mendonça, in "Baldios"

terça-feira, 27 de agosto de 2013

UM DESABAFO.




Meus amigos e amigas
Cada vez ficamos mais confusos e talvez seja importante eu dizer em forma de desabafo o que recentemente comigo se passou.
Fui fazer analises habituais ao sangue e á urina,numa entidade privada
Segundo a opiniâo do médico,mandou-me repetir as da urina porque estavam com infecção
Dava (Positivo)
Oito dias depois fui levar a nova analise....e....diz-me o médico
Está tudo bem !!!
Dava (Negativo)
Tenho ambas em meu poder,obviamente!!!
Pergunto:
Onde está o engano?
Fiquei com mais duvidas!!

É ASSIM QUE FUNCIONA O SISTEMA DE SAÚDE NO MEU PORTUGAL??

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Transparências Perdidas [Trailer]





Devaneios ReveladoresNa verdade, se nos fosse dado penetrar com os olhos da carne na consciência dos outros, julgaríamos com mais segurança um homem pelo que devaneia do que pelo que pensa. O pensamento é dominado pela vontade, o devaneio não. O devaneio, que é absolutamente espontâneo, toma e conserva, mesmo no gigantesco e no ideal, a figura do nosso espírito. Não há coisa que mais directa e profundamente saia da nossa alma do que as nossas aspirações irreflectidas e desmesuradas para os esplendores do destino. Nestas aspirações é que se pode descobrir o verdadeiro carácter de cada homem, melhor do que nas ideias compostas, coordenadas e discutidas. As nossas quimeras são o que melhor nos parece. Cada qual devaneia o incógnito e o impossível, conforme a sua natureza. 

Victor Hugo, in 'Os Miseráveis'

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

APRENDI!!!




Aprendi que Amores eternos podem acabar em uma noite,
que grandes Amigos podem se tornar grandes inimigos,
que o amor Sozinho não tem a força que imaginei.
Que ouvir os outros é o Melhor remédio e o pior veneno, 
que a gente nunca conhece uma pessoa de Verdade, afinal, gastamos uma vida inteira para conhecer a nós mesmos. 
Que os poucos amigos que te Apoiam na queda, são muito mais fortes do que os muitos que te empurram.
Que o "nunca mais" nunca se cumpre, que o "para sempre" sempre acaba, que minha Família com suas mil diferenças, está sempre aqui quando eu preciso.
Que ainda não inventaram nada melhor do que colo de Mãe desde que o mundo é mundo, que vou sempre me surpreender, seja com os Outros ou comigo.
Que vou Cair e levantar milhões de vezes, e ainda não vou ter aprendido Tudo."


William Shakespeare

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

SEI AGORA COMO NASCEU A ALEGRIA!!


Eugénio de Andrade


Sei agora como nasceu a alegria, 
como nasce o vento entre barcos de papel, 
como nasce a água ou o amor
quando a juventude não é uma lágrima.

É primeiro só um rumor de espuma
à roda do corpo que desperta,
sílaba espessa, beijo acumulado,
amanhecer de pássaros no sangue.

É subitamente um grito,
um grito apertado nos dentes,
galope de cavalos num horizonte
onde o mar é diurno e sem palavras.

Falei de tudo quanto amei.
De coisas que te dou
para que tu as ames comigo:
a juventude, o vento e as areias.


quarta-feira, 7 de agosto de 2013

COMO DIZER O SILÊNCIO?

Como dizer o silêncio?
Se em folhagem de poema
me catais anacolutos
é vossa a fraude. A gema
não desce a sons prostitutos.

O saltério, diletante,
fere a Musa com um jasmim?
Só daí para diante
da busca estará o fim.

Aberta a porta selada,
sou pensada já não penso.
Se a Musa fica calada
como dizer o silêncio?

Atirar pérola a porco?
Não me queimo na parábola.
Em mãos que brincam com o fogo
é que eu não ponho a espada.

Dos confins, o peristilo
calo com pontas de fogo,
e desse casto sigilo
versos são só desafogo.

E também para que me lembrem
deixo-os no mercado negro,
que neles glórias se vendem
e eu não sou só desapego.

Raiz de Deus entre os dentes,
aí, pára a transmissão.
Ultra-sons dessas nascentes
só aves entenderão.



Natália Correia
Poesia Completa
Publicações Dom Quixote
1999

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

ENVELHECER....




Julio Machado Vaz
Envelhecer

Uma pessoa envelhece lentamente: primeiro envelhece o seu gosto pela vida e pelas pessoas, sabes, pouco a pouco torna-se tudo tão real, conhece o sginificado das coisas, tudo se repete tão terrível e fastidiosamente. Isso também é velhice. Quando já sabe que um corpo não é mais que um corpo. E um homem, coitado, não é mais que um homem, um ser mortal, faça o que fizer... Depois envelhece o seu corpo; nem tudo ao mesmo tempo, não, primeiro envelhecem os olhos, ou as pernas, o estômago, ou o coração. Uma pessoa envelhece assim, por partes. A seguir, de repente, começa a envelhecer a alma: porque por mais enfraquecido e decrépito que seja o corpo, a alma ainda está repleta de desejos e de recordações, busca e deleita-se, deseja o prazer. E quando acaba esse desejo de prazer, nada mais resta que as recordações, ou a vaidade; e então é que se envelhece de verdade, fatal e definitivamente. Um dia acordas e esfregas os olhos: já não sabes porque acordaste. O que o dia te traz, conheces tu com exactidão: a Primavera ou o Inverno, os cenários habituais, o tempo, a ordem da vida. Não pode acontecer nada de inesperado: não te surpreeende nem o imprevisto, nem o invulgar ou o horrível, porque conheces todas as probabilidades, tens tudo calculado, já não esperas nada, nem o bem, nem o mal... e isso é precisamente a velhice.

Sándor Márai, in 'As Velas Ardem Até ao Fim'