sábado, 25 de novembro de 2017

BRAÇOS EXAUSTOS...



Braços Exaustos 

Abro os braços suspensos
Como velas de moinhos
Nas cumeadas dos montes
E já não tenho medo
Que os ventos diabólicos
Me levem para longe

Terei outros braços
Enleando as fantasias dos dias
Para me levarem apenas para poente
Onde o lume me espera
Na espuma vermelha do horizonte

Pelo caminho colherei o sol
Porque a sua distância
Ao meu chão plano
Será apenas a dum gesto
E as suas promessas
De estrela brilhante
Ficarão presas entre os meus dedos
Para encerrar a luz solar
E todas as tempestades
Entre os extremos dos meus braços alados
Que se fecham pouco a pouco

Fernando Reis Luís
(Monchique)

Fotografia - Moinho de vento- São Brás de Alportel

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

A MÁQUINA DE COSTURA!!!!

A máquina de costura

Talhem-se as palavras justas
ao corpo do sofrimento
as imagens serão curtas
amplos os ombros do tempo
soltos os panos dos olhos
bordados os do talento
cosidos os dos ouvidos
ao forro do pensamento.
Tome-se o têxtil do tema
e corte-se o que é preciso
com a tesoura do riso.
Mas na orla do poema
depois da obra acabada
deixe-se ao menos um dedo
de tristeza embainhada.
Ary dos Santos


quarta-feira, 15 de novembro de 2017

SENTIMENTO DO MUNDO!!




    Tenho apenas duas mãos
    e o sentimento do mundo,
    mas estou cheio escravos,
    minhas lembranças escorrem
    e o corpo transige
    na confluência do amor.
    Quando me levantar, o céu
    estará morto e saqueado,
    eu mesmo estarei morto,
    morto meu desejo, morto
    o pântano sem acordes.
    Os camaradas não disseram
    que havia uma guerra
    e era necessário
    trazer fogo e alimento.
    Sinto-me disperso,
    anterior a fronteiras,
    humildemente vos peço
    que me perdoeis.

    de Carlos Drummond de Andrade


    sexta-feira, 10 de novembro de 2017

    AMISADE!!!!


    A amizade consegue ser tão complexa... 
    Deixa uns desanimados, outros bem felizes... 
    É a alimentação dos fracos 
    É o reino dos fortes 

    Faz-nos cometer erros 
    Os fracos deixam se ir abaixo 
    Os fortes erguem sempre a cabeça 
    os assim assim assumem-os 

    Sem pensar conquistamos 
    O mundo geral 
    e construímos o nosso pequeno lugar 
    deixando brilhar cada estrelinha 

    Estrelinhas... 
    Doces, sensíveis, frias, ternurentas... 
    Mas sempre presentes em qualquer parte 
    Os donos da Amizade...
    DesconhecidoSUBLINHO

    sexta-feira, 3 de novembro de 2017

    PORQUE ENTÃO?



    Rude o chão deste meu humilde caminho
    que me obriga a morrer de sede
    à beira do rio da vida
    quando os lilases ainda se abrem perfumando tudo
    no correr das tardes mornas serenas e calmas.

    Ah! Vontade doida esta
    de te gritar este meu cansaço
    de te gritar este sonho tímido
    que guardo na haste mais alta e verde de mim.

    Vem amor
    não me deixes partir com os olhos rasos de água
    vem antes que eu habite o silêncio inacabável
    dormindo sangrando como um poente

    porque então
    só poderás ler os meus versos e beijar a minha lembrança
    na ramagem da brisa alta como num sonho
    e só ficarás com a lua branca que te causará frio.

    Olha como são suaves os cabelos deste entardecer.

    Margarida Sorribas
    (Reservados os direitos de autor)
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