sexta-feira, 27 de julho de 2012

O nosso livro...

Arte & Poesia

 O nosso livro

Livro do meu amor, do teu amor,
Livro do nosso amor, do nosso peito…
Abre-lhe as folhas devagar, com jeito,
Como se fossem pétalas de flor.

Olha que eu outro já não sei compor
Mais santamente triste, mais perfeito
Não esfolhes os lírios com que é feito
Que outros não tenho em meu jardim de dor!

Livro de mais ninguém! Só meu! Só teu!
Num sorriso tu dizes e digo eu:
Versos só nossos mas que lindos sois!

Ah, meu Amor! Mas quanta, quanta gente
Dirá, fechando o livro docemente:
“Versos só nossos, só de nós os dois!…”

 

Florbela Espanca

sexta-feira, 20 de julho de 2012

DIA DO AMIGO.

Arte & poesia
Dia do Amigo!!!


(Fernando Pessoa)

Quero ser o teu amigo.
Nem demais e nem de menos.
Nem tão longe e nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu puder.
Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida,
Da maneira mais discreta que eu souber.
Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar.
Sem forçar tua vontade.
Sem falar, quando for hora de calar.
E sem calar, quando for hora de falar.
Nem ausente, nem presente por demais.
Simplesmente, calmamente, ser-te paz.
É bonito ser amigo, mas confesso: é tão difícil aprender!
E por isso eu te suplico paciência.
Vou encher este teu rosto de lembranças,
Dá-me tempo de acertar nossas distâncias.
"A TODAS  AMIGAS E AMIGOS QUE POR AQUI PASSAM,
UM BOM FIM DE SEMANA E MUITO OBRIGADA".

sexta-feira, 13 de julho de 2012

O sonho de um segredo que não pesa"

Imagem de:S.M.Pompy
O sonho de um segredo que não pesa"


Sei que és
tão delicada como a porcelana
e que, quando cais,
te partes em mil pedaços,
que recolhes e escondes de alma dorida
num canto de ti.

Fico a pensar que és um destroço
no mar agitado da vida,
mas que
lutarás por te levares viva
para a costa palpável da tua autópsia.

E vejo-te a colar os pedaços,
não sendo prazer nem mágoa
as feridas sobre as quais te reavivas,
pois a luz
que em ti se finda
tem sempre algum calor remanescente.

Ah, como estamos longe…
tão longe…
mas tão perto que a nossa fantasia
ainda ilesa
nos retira aquele aperto de sonharmos
o sonho de um segredo que não pesa.


Poema: Nilson Barcelli

segunda-feira, 9 de julho de 2012

AVE Mundi by Rodrigo Leao


A morte não te há-de matar
Nem sorte haverá de eu viver
Sem amar, sem te ter, sem saber se rezar

Amor, oxalá seja amar

Ter prazer sem poder
Nem sequer te tocar...

Os deuses não te hão-de levar
Sem que eu dê a mão para ser par
Sermos dois a partir
E depois a voltar ...

Não vais-me deixar sem o céu
Ser o chão onde vão se deitar os mortais

A glória será não esquecer
Memoria de tanto te querer
Sem razão, meu amor, com paixão,
Sem morrer...

Talvez ao luar
Possas ver o olhar
Que lembrar fez nascer
Português



quinta-feira, 5 de julho de 2012

NAVEGAR É PRECISO.



Navegar é Preciso

(Fernando Pessoa
)

Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:

"Navegar é preciso; viver não é preciso".

Quero para mim o espírito [d]esta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:

Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo
e a (minha alma) a lenha desse fogo.

Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.

Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
para a evolução da humanidade.

É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

JÁ NÃO ME IMPORTO...





Já não me importo
Até com o que amo ou creio amar.
Sou um navio que chegou a um porto
E cujo movimento é ali estar.

Nada me resta
Do que quis ou achei.
Cheguei da festa
Como fui para lá ou ainda irei

Indiferente
A quem sou ou suponho que mal sou,

Fito a gente
Que me rodeia e sempre rodeou,

Com um olhar
Que, sem o poder ver,
Sei que é sem ar
De olhar a valer.

E só me não cansa
O que a brisa me traz
De súbita mudança
No que nada me faz.

Fernando Pessoa

segunda-feira, 2 de julho de 2012

SEM TI...

Imagen da net

 Sem ti
o tempo arrasta-se,
- lagarta pesada e viscosa
em cujos anéis me enredo.
 

Sem ti,
cada hora passa
com a lentidão de um dia,
e a cada uma afloras
com a persistência de um relógio.

Sem ti,
criam-se clareiras de sombra
na minha vida,
explodem buracos negros
em que me afundo e perco.

Sem ti
morrem sonhos,
escurece o olhar,
sobram os gestos.

Sem ti,
não quero.

 

D.L.