domingo, 26 de julho de 2015

JÁ PASSEI FRONTEIRAS!!!!


Já passei fronteiras
que doeram demais
para além do limiar
e do sentir

Fui cigana
de sinas consentidas
e
vi morrer o Sol
em muitas vidas

Hoje
sou a senhora do Mar
onde o verso
por vezes vira reverso
Sou a senhora de mim
A minha escrava
e também Raínha

Me conquistei
à custa da dor
e o meu reino
também foi de Amor.

LuizaCaetano

terça-feira, 21 de julho de 2015

COISAS VÁRIAS.....

"COISAS VÁRIAS" -

«– Até posso ser uma personagem de um filme,
Não realizado;
– Até posso ser uma figura de um romance,
Não escrito;
– Até posso ser uma actriz, sem papel,
Em qualquer peça de teatro,
Não concluída;
– Até posso ser uma das faces da Lua,
Não revelada;
– Até posso ser um raio de Sol,
Não iluminado;
– Até posso ser um borrão de tinta-da-china
Espalhado por uma grande folha de papel
Em branco;
– Até posso ser um quadro de Van Gogh,
Onde o Semeador lança as suas sementes,
Em Terra fértil;
– Até posso ser um marco do correio,
Aquele ali ao lado,
Onde a Amélia coloca, todos os dias, as cartas
Para o seu amante,
Que navega nos confins dos oceanos;
– Até posso ser um tronco seco
Daquele carvalho velho que habita,
Há gerações, no meu jardim;
– Até posso ser aquele molho de girassóis
Que cobre, de amarelo,
Os terrenos da minha quinta,
Que não existe;
– Até posso ser todos os velhos agoirentos
Que deixaram partir os barcos,
Que já não partem;
– Até posso ser todos os Adamastor(es),
Que já não assombram os mares;
– Até posso ser um Fernando Pessoa(s)
Nestes versos lançados ao mar
Na “Lisboa Revisitada”
Pelos turistas ingleses,
Que não percebem o que eu escrevo;
– Até posso ser um génio, agora brotante,
Da Poesia Portuguesa Contemporânea,
Mesmo que ninguém leia os meus versos
Em canto órfico, em canções de fado
Sem rima propositada.»
IR(Semi-heterónimo de Isabel Rosete), In Livro "FLUXOS DA MEMÓRIA", 

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Noites de tango.

(Noites de Tango,
e silencioso pranto!)
Bocas mudas,
cheias de vazios, ardem 
à espera de uma palavra,
ou de um beijo desejado
disfarçam lágrimas
em melancólicos sorrisos vãos,
contornados por ousados lábios
cheios de batom carmim
(ao som de um Tango qualquer,
arrancado de um velho Bandoneón.)

(ao abrigo do código do direito de autor)
Art by Andrew Atroshenko

sábado, 4 de julho de 2015

Quase um Poema de Amor

Quase um Poema de Amor

Há muito tempo já que não escrevo um poema 
De amor. 
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza! 
A nossa natureza 
Lusitana 
Tem essa humana 
Graça 
Feiticeira 
De tornar de cristal 
A mais sentimental 
E baça 
Bebedeira. 

Mas ou seja que vou envelhecendo 
E ninguém me deseje apaixonado, 
Ou que a antiga paixão 
Me mantenha calado 
O coração 
Num íntimo pudor, 
— Há muito tempo já que não escrevo um poema 
De amor. 

Miguel Torga, in 'Diário V'