quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O fio de um cabelo

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O fio de um cabelo
 
Abandono a casa o horto o lugar à mesa
o casaco de que gostava, sobre o leito dobrado
esta verdade quase banal
que toda a vida fui

Não abro a porta quando batem
(às vezes batiam só por engano)
não avalio o balanço das certezas
o que separa uma forma da outra
sempre me escapou

Ontem começava a clarear
o ar frio que vinha dos campos
julguei-o de passagem e afinal
era um segredo que meu corpo
de uma vez por todas contava 
ao meu corpo

Mas quando tombei sobre a terra
perdido como o fio de um cabelo
(aqueles que primeiro caem
da cabeça de um rapaz
e por não serem notados
são mais perdidos ainda)
estavas junto de mim

Lançaste ao fogo cidades
afogaste os exércitos
no vermelho mar da sua ira
hipotecaste terras tão preciosas
para estares junto de mim


José Tolentino Mendonça
De Igual Para Igual

2 comentários:

  1. Há quanto tempo eu não lia o José Tolentino Mendonça.
    Querida amiga, obrigado pela partilha, pois eu não conhecia o poema.
    Beijos.

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  2. Boa noite Nilson.
    Eu leio de tudo um pouco,sou uma viciada em livros,principalmente da Historia Mediaval á Contemporânea e obviamente,de autores consagrados,como este..em poemas.
    Geralmente procuro retratar,nos que mais me identifico.
    A Net permite-me divagar,nos momentos livres e encontrar "matéria"que eu julgava perdida!
    Uma belissíma noite
    beijinho amigo

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