– Gostas que te vista o pijama em cima da cama.
É para termos os nossos olhos mais perto?,
pergunta a mãe, colando testa e nariz
na testa e nariz do menino, que responde que sim.
– Mãe, de que lado fica o coração?,
pergunta o filho.
Do lado esquerdo, filho!,
responde a mãe.
O filho levanta uma mão, e pergunta:
– É esta é a minha mão esquerda, certo?
– Sim.
– Levanta a tua mão esquerda, mãe.
Ele, de pé, em cima da cama,
e ela, de pé, junto à cama, diante dele;
ele olha a sua mão esquerda
e a mão esquerda da mãe;
ela, apenas o observa, não reage, aguarda.
– Mãe, posso encostar o meu coração ao teu?
– Filho, o meu coração e o teu estão sempre juntos.
– (…)
– Estarão sempre juntos.
– Dás-me um abraço, mãe?
A mãe abraça o menino.
– Vês como estamos juntos, filho?
– Mas o meu lado esquerdo não se encostou ao teu.
A mãe, evitando o choro, afasta-se e vira-se de costas.
– Encosta o teu coração ao meu.
– Porque é que a saudade dói, mãe?
Porque é que chorar faz bem?
O filho abraça a mãe por trás.
– Dói muito, mãe.
– (…)
– Porque é que as pessoas morrem?
– Para olharem por nós.
– Preferia tê-lo aqui comigo,
que ele corresse comigo às cavalitas.
Sabes o que o coração do pai fazia
quando corria comigo às cavalitas?
Bum, bum, bum! Com muita força!
Depois, ele ia para junto de um muro
para que eu saísse, mas eu só saía
quando o coração dele batia mais devagar.
Ele dizia que o meu coração acalmava o dele.
Acho que era por estarem encostados.
Mãe…
– Sim?
– Podes chorar, que eu não vejo.
O meu coração só se desencosta do teu
quando chorares tudo.
Ouvi dizer que chorar faz bem;
não sei porquê;
amo-te.
Sérgio Lizardo